Foto: Serra d' Opa

Esta gazetilha regional é uma
homenagem modesta à
«Gazeta do Sabugal» (1926/28),
criada pelo casteleirense e ocelense
Dr. Joaquim Mendes Guerra.

As Beiras vistas do alto da Serra d' Opa!


segunda-feira, 10 de março de 2014

Homenagem ao Povo de Quadrazais

Contrabando: vida melhor para os povos da nossa zona


Serra das Mesas: cenário de passagem de muito contrabando


Hoje deu-me para aqui, a mim, pobre Serra d’ Opa, acocorada cá bem no alto do talefe. Deu-me para o sentimento e para as homenagens. Estava aqui a pensar em tempos antigos – isto é, tempos anteriores a estes que se vivem – meio desconjuntados – e dei comigo mesma a pensar em quantos pés já calcaram estas serranias e outras que avisto (mal mas avisto) daqui de cima, como a Serra de Malcata e a Serra das Mesas lá mais adiante, ali mesmo na fronteira.
Daí até ao contrabando, aos contrabandistas e aos quadrazenhos daqueles tempos, foi um passinho pequenino.
Mas vamos por partes.

Aqui há uns 60 anos, ali por aquele período que vaio do final da II Guerra Mundial e o início da emigração a sério, muitas – mas muitas vezes – vi passar aqui em baixo, a dirigirem-se para a Moita, para o Vale e para o Casteleiro (as minhas três terras protegidas) pessoas carregadas de sacos e de xailes enrolados.
Sabem quem eram?
Pois: isso mesmo: eram contrabandistas.

Essa malta vinha em boa parte sabem de onde? De Quadrazais.
Eram pessoas com muita coragem e que fez muito bem a toda a gente desta região toda.
Elas arriscavam a vida para irem ao outro lado da fronteira e de lá traziam de tudo o que podiam para vender a bom preço à população que precisava mesmo desses produtos.

Quem quiser saber mais tem de ter paciência e ler algumas peças de investigação que lhe indico sem qualquer arrogância intelectual da minha parte:
1. «Onde há raia, há contrabando … O contrabando é feito de histórias». Delfina Baptista.

2. «Ao falar de Quadrazais, falamos também do Contrabando (…). O contrabandista, que pela calada da noite, passava mercadoria por essas serras, montes e penedias, fugindo à guarda fiscal, desapareceu». JF Quadrazais

3. «A gíria quadrazenha é um linguajar usado pelos habitantes de Quadrazais no concelho do Sabugal, sobretudo por contrabandistas e passadores, para iludir a guarda fiscal e os carabineiros. Um contrabando furtivo e ilegal fazia-se ao longo de toda a fronteira com Espanha, mas em Quadrazais era uma actividade praticada por quase todos, era um modo de vida que rendia mais do que a terra seca e quase estéril, mesmo que muito trabalhada, que não dava sustento para famílias numerosas como era habitual nesse tempo». J. Benedita / Expresso.


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Quadrazais hoje


4. «A aldeia de Quadrazais, no concelho do Sabugal, perto de Espanha, tem uma gíria própria, utilizada nos tempos do contrabando, que já caiu em desuso e apenas é do conhecimento dos mais velhos. A gíria quadrazenha nasceu da necessidade dos seus habitantes, que praticaram contrabando de subsistência com grande vigor até aos anos de 1960, comunicarem entre si sem serem percebidos pelos guardas fiscais que vigiavam a fronteira entre Portugal e Espanha». Lusa «in» Notícias.sapo.

5. «Afastadas dos centros urbanos, as populações raianas da área da Serra da
Malcata e de toda a Raia Central, à semelhança de outras regiões fronteiriças,
encontravam no contrabando a forma de vida que lhes garantia o sustento que
dificilmente poderiam obter na agricultura tradicional ou noutro tipo de actividade
local.
Desde sempre estas populações conviveram, de forma pacífica, com os
seus vizinhos espanhóis ignorando as orientações políticas dos governos de
ambos as lados». António Cabanas.

6. « (Quadrazais) tinha duas fábricas de sabão. … Foi este sabão que o meu avô Pedro Diniz e os filhos andaram a contrabandear durante a II Guerra, levando-o para Espanha. Nestas terras de contrabando, os quadrazenhos traziam de Espanha o tecido Georgete (…), peitilhos, linho, popelina azul ou branca, pano-cru, quase sempre para camisas, com ou sem colarinho e, curiosamente, muita seda, que abundava por isso na aldeia. Como conta Nuno de Montemor, quando vinham os guardas-fiscais, para a esconder vestiam com ela os Santos das Igrejas e toda a gente da aldeia. Traziam os contrabandistas ainda alpergatas, mel, azeite e pão, chitas, véus e muita roupa. Levavam já o café». Aires Diniz.


Aqui fica pois a minha modesta homenagem das aldeias minhas protegidas (Casteleiro, Santo Estêvão, Moita, Terreiro das Bruxas e Vale de Lobo – nome de antanho, hoje da Senhora da Póvoa).
Homenagem ao Povo de Quadrazais desses anos duros.
Presumindo que com os produtos que os quadrazenhos traziam para aqui devem ter ajudado muita gente a viver um pouco melhor.

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